ALFABETIZAÇÃO: FORMANDO CONSCIÊNCIA CRÍTICA.
N0
01 Novembro/2012
APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que iniciamos as reflexões sobre a Educação Básica por meio das questões relativas à Alfabetização. Esperamos que a leitura e as reflexões sobre a temática a ser abordada contribuam para a melhoria da qualidade do ensino que vem sendo implementado. Agradecemos toda contribuição crítica que possivelmente você nos proporcionará nesse debate para que possamos cada vez mais aprimorar as nossas experiências.
REFLEXÕES
INICIAIS
Estamos vivendo um momento muito
significativo em relação à política de alfabetização, intitulada Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC, que vem sendo implantada pelo Ministério
da Educação – MEC. O referido pacto convoca toda a sociedade brasileira: as
famílias, os estudiosos, os pesquisadores, as secretarias de educação, as(os)
professoras(es) alfabetizadoras(es), dentre outros corresponsáveis pela garantia
de que todas as crianças sejam alfabetizadas até 8 anos de idade.
As crianças têm o direito, de
serem alfabetizadas no tempo e espaço da infância, nos anos iniciais do ensino
fundamental, intitulado de ciclo da alfabetização. Tem direito a uma Política de Alfabetização séria e
comprometida com a sua formação. Nesse sentido, necessário se faz levar em
consideração a formação de sujeitos
leitores e produtores de textos com consciência crítica. Não basta aprender
a ler e escrever palavras, é necessário aprender a ler e a produzir textos e
assim, dizer a sua palavra. É fundamental aprender a ler o mundo, o contexto
social, histórico, cultural, político e econômico em que vivemos.
Ao refletirmos sobre essas questões
lembramos as palavras de Paulo Freire[1]:
A consciência do mundo e a consciência de si crescem
juntas e em razão direta; uma é a luz interior da outra, uma comprometida com a
outra. Evidencia-se a intrínseca correlação entre conquistar-se, fazer-se mais
si mesmo, e conquistar o mundo, fazê-lo mais humano (1983, p.65)
Fiori ao escrever
o prefácio sobre os dizeres de Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido, destaca
que
Alfabetizar não é aprender a repetir palavras, mas a
dizer a sua palavra, criadora de cultura [...] Ensinar a ler as palavras ditas
e ditadas é uma forma de mistificar as consciências, despersonalizando-as na
repetição – é a técnica da propaganda massificadora. Aprender a dizer a sua
palavra é toda a pedagogia, e também toda a antropologia [...] A palavra
instaura o mundo do homem. [...] A palavra, porque lugar do encontro e do
reconhecimento das consciências, também o é do reencontro e do reconhecimento
de si mesmo. A palavra pessoal, criadora, pois a palavra repetida é monólogo
das consciências que perderam sua identidade, isoladas, imersas na multidão
anônima e submissas a um destino que lhes é imposto [...] (1983, p.18-19).
Nesse sentido, destacamos a
importância da alfabetização numa dimensão de constituição de consciências
críticas. Aprender a ler e a escrever como um processo de interlocução com as
práticas sociais e culturais infantis, pois
A alfabetização não é um jogo de palavras, é a
consciência reflexiva da cultura, a reconstrução crítica do mundo humano, a
abertura de novos caminhos, o projeto histórico de um mundo comum, a bravura de
dizer a sua palavra (Idem, p. 20).
Nessa perspectiva, precisamos
ensinar a criança os conhecimentos básicos da
alfabetização, dentre os quais a relação grafema fonema, de forma que as
múltiplas vozes infantis possam ser ponto de partida e de chegada, com vistas à
constituição de sujeitos leitores e
produtores de textos com consciência crítica.
QUESTÕES PARA PENSAR
Quando nos remetemos à constituição de sujeitos
leitores e produtores de textos com consciência crítica, estamos inserindo no
debate uma análise sobre a relação entre educação e transformação social, uma
reflexão sobre a educação enquanto mediação. E ainda, estamos nos remetendo à
importância de trabalharmos com práticas de leitura e de produção de textos com
sentido e significado. Práticas que promovam o pensamento crítico, reflexivo e
autônomo
Ao ser indagado pela Revista Vozes em 1981 sobre a alfabetização de
crianças,
Paulo Freire respondeu que
Na
educação das crianças, o importante não é abrir a cabeça delas para lhes dar
nomes de ilhas e vultos, mas possibilitar que as crianças criem conhecimentos e
conheçam criando[...], expressando-se e expressando a realidade, numa
compreensão crescentemente lúcida da sua realidade (Apud GADOTTI[2],
1991, p.40).
REFLETINDO UM POUCO
MAIS
Figura
01: Palavras ditas são múltiplas vozes que se objetivam nas práticas sociais e
culturais.
Acesso
em 07/11/2012.
|
PARA SABER
Lançamento do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) - http://pacto.mec.gov.br/
Nessa
quinta-feira, dia 8 de novembro, às 11h será lançado o Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) em solenidade no Palácio do Planalto com a
presença da Exma. Sra. Presidenta República, Dilma Roussef, e do Ministro da
Educação, Aloizio Mercadante.
Nesse
dia a Undime fará um pronunciamento na Presidência da República, dada a
importância do Pacto para a construção de políticas públicas voltadas à
primeira fase do ensino fundamental, em especial ao ciclo de alfabetização.
Reajuste salarial
Deputados
responsáveis por debater a forma de reajuste do Piso Salarial dos Profissionais
do Magistério Público da Educação Básica apresentaram, na manhã da quarta-feira
(31/10/2012), ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT/ RS), a proposta
para o reajuste do Piso Salarial formulada pela Undime, Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e Campanha Nacional. (Disponível em Boletim em Pauta, Undime, Acesso em 07/11/2012).
Câmara aprova nova distribuição dos royalties do
petróleo
Deputados rejeitaram versão que
reservava recursos para a educação.
Depois
de uma reviravolta no plenário, os deputados aprovaram na noite desta
terça-feira (6), por 296 votos a favor e 124 contra, o texto-base oriundo do
Senado do projeto que redistribui entre União, estados e municípios os tributos
(royalties e participação especial) provenientes da exploração do petróleo. O
projeto segue agora para sanção da presidente Dilma Rousseff.
Os royalties
são valores que os entes da federação recebem como compensação por danos
ambientais das empresas que exploram petróleo. A participação especial é outro
tributo pela exploração, mas incidente apenas sobre grandes campos, por
exemplo, das reservas do pré-sal.
O texto aprovado não reserva royalties para áreas
específicas, como educação ou saúde. Antes, os deputados
tinham derrubado, por 220 votos a 211, um substitutivo (versão alternativa)
do deputado Carlos Zaratini (PT-SP), que destinava 100% da parcela de estados e
municípios à área da educação, como queria o governo.
Disponível em http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/11/camara-aprova-versao-do-senado-e-veta-100-de-royalties-para-educacao.html
- Iara
Lemos e Nathalia Passarinho Do G1, em
Brasília, acesso em 07/11/2012).
DICAS - E-BOOK
Trecho
do E-BOOK
“Trabalhar com leitura e
produção de textos no processo de alfabetização significa explorar as
diferentes situações de linguagem, isto é, considerar a criança enquanto
interlocutora. Alguém que precisa falar e ser ouvida, alguém que ouve e precisa
dar opiniões, enfim, alguém que interage com as diversas formas de linguagem”.
om o propósito de discutir sobre
a alfabetização numa perspectiva discursiva, esta obra discute a leitura e a
produção de textos como prática social e cultural. Discute também a necessidade
de conhecer o que as crianças pensam sobre o aprendizado da leitura e da
escrita, o já sabem sobre ler e escrever, quais as suas experiências com e
sobre diferentes situações de leitura e de produção de textos.
No Capítulo I destaca as questões
históricas e teóricas que precisam ser consideradas no processo de ensino
aprendizagem da leitura e da escrita. As principais correntes pedagógicas e as
perspectivas teóricas que estão subjacentes em cada uma.
No Capítulo II aborda questões
relativas ao processo de alfabetização com o texto, bem como os conhecimentos
que devem ser ensinados às crianças e a metodologia mais adequada na/para a
organização do trabalho pedagógico, com vistas à constituição de sujeitos leitores e produtores de textos com
consciência crítica.
CANTINHO LITERÁRIO
Qualidades do Professor
Cecília Meireles
Se há uma criatura que tenha
necessidade de formar e manter constantemente firme uma personalidade segura e
complexa, essa é o professor.
Destinado a pôr-se em contato com
a infância e a adolescência, nas suas mais várias e incoerentes modalidades,
tendo de compreender as inquietações da criança e do jovem, para bem os
orientar e satisfazer sua vida, deve ser também um contínuo aperfeiçoamento,
uma concentração permanente de energias que sirvam de base e assegurem a sua
possibilidade, variando sobre si mesmo, chegar a apreender cada fenômeno
circunstante, conciliando todos os desacordos aparentes, todas as variações
humanas nessa visão total indispensável aos educadores.
É, certamente, uma grande obra
chegar a consolidar-se numa personalidade assim. Ser ao mesmo tempo um
resultado — como todos somos — da época, do meio, da família, com
características próprias, enérgicas, pessoais, e poder ser o que é cada aluno,
descer à sua alma, feita de mil complexidades, também, para se poder pôr em
contato com ela, e estimular-lhe o poder vital e a capacidade de evolução.
E ter o coração para se emocionar
diante de cada temperamento.
E ter imaginação para sugerir.
E ter conhecimentos para
enriquecer os caminhos transitados.
E saber ir e vir em redor desse
mistério que existe em cada criatura, fornecendo-lhe cores luminosas para se
definir, vibratilidades ardentes para se manifestar, força profunda para se
erguer até o máximo, sem vacilações nem perigos. Saber ser poeta para inspirar.
Quando a mocidade procura um rumo para a sua vida, leva consigo, no mais íntimo
do peito, um exemplo guardado, que lhe serve de ideal.
Quantas vezes, entre esse ideal e
o professor, se abrem enormes precipícios, de onde se originam os mais tristes
desenganos e as dúvidas mais dolorosas!
Como seria admirável se o
professor pudesse ser tão perfeito que constituísse, ele mesmo, o exemplo amado
de seus alunos!
E, depois de ter vivido diante
dos seus olhos, dirigindo uma classe, pudesse morar para sempre na sua vida,
orientando-a e fortalecendo-a com a inesgotável fecundidade da sua recordação.
(Texto de Cecília Meireles,
extraído do livro Crônicas de Educação 3 Ilustrado por Laurabeatriz. Disponível
em http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/qualidades-professor-634350.shtml Acesso em
07/11/2012).
ü Dedicamos o nosso reconhecimento a todas as professoras
alfabetizadoras[3]
que procuram com muita dignidade formar crianças leitoras e produtoras de
textos.
PONTO DE VISTA
ü
Esse quadro constitui um espaço
para você dizer o seu ponto de vista em relação à temática ALFABETIZAÇÃO: FORMANDO CONSCIÊNCIA CRÍTICA.
ü Faça
o seu comentário.
ü Obrigado
pela leitura.
|
- [1] FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 12ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
- [2]GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Editora Scipione, 1991.
- [3] Destacamos professora alfabetizadora tendo em vista que é maioria na tarefa de alfabetizar
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