“DUELOS” VELADOS EM DISCURSOS ELEITORAIS
COLUNA | Opinião
Por Ana Maria Louzada
Vivemos um momento histórico em nosso
país, permeado por um grande desejo de mudança, isto é, por uma significativa
necessidade de aprofundamento do conceito de democracia, com vistas à tão
sonhada reforma política.
No entanto, nos deparamos com
posicionamentos radicais que geram dúvidas, angústias e desilusões, porque
revelam o medo e o ódio, e ainda, dissimulam as práticas de corrupção.
Sim! Estamos na reta final das
campanhas eleitorais para presidente e vivenciamos dois extremos que nos
colocam em situações desastrosas.
Talvez não coloquem em prática seus
discursos. Talvez as suas narrativas sejam apenas instrumentos para
conquistar o poder. Mas, ainda assim, quando vindos de pessoas que se
candidatam a viver a experiência de governar uma nação, constituem verdades,
principalmente aos ouvidos de quem tem os germes do ódio e da
dissimulação.
Tais questões nos causam a sensação
de estarmos retomando a época do “duelo” em que as pessoas ainda se encontravam
pouco evoluídas do ponto de vista político, moral, ético e espiritual. Então
lutavam em prol de si mesmas.
Hoje, diria que na mesma proporção,
lutam em prol do poder. Um poder que tem objetivo em-si-mesmo, cuja
meta principal é saciar o orgulho, a soberba, a ambição, dentre outras
intenções que corrompem a democracia.
Esse tipo de luta ignora o sentido
pleno da política, porque o foco está na perspectiva da política partidária,
onde reina a vaidade, que por sua vez, tem se ancorado em práticas de corrupção.
Como é sabido, as referidas práticas
desconsideram as reais necessidades do povo brasileiro, e, o pior, nesse
momento tão importante, tem evidenciado um ódio velado e traiçoeiro, por
meio de um discurso que mente descaradamente, e, que instiga sentimentos
radicais e (des)humanos. Discursos e práticas que (des)humanizam.
E não pensem que estou falando apenas
de um lado dos dizeres proferidos. Gostaria de chamar atenção para o que dizem
os candidatos a presidência, e, também, o que falam os seus eleitores. Nos
deparamos com posicionamentos que chegam ao cúmulo das agressões e ao que é mais
sagrado – a dignidade das pessoas de bem.
Como podemos ver, carecemos de uma
política ética, que considera a importância da emancipação humana, e, que, para
tanto, precisa ter mais responsabilidade com as palavras proferidas, tendo em
vista que as mesmas têm implicações nas ações cotidianas. Ações que no lócus
das práticas políticas em tempo espaço de eleição presidencial, precisam
ser cuidadosamente gerenciadas, numa relação coerente entre discurso e prática.
No entanto, infelizmente falta-nos
consciência crítica. Não no sentido estreito de criticar, mas de rompermos com
a crítica em-si-mesma, com vistas a assumirmos uma postura que vira ao
avesso a crítica pela crítica. Uma postura que promova o rompimento da barbárie
que ora vivenciamos - ideias que pregam à perpetuação do ódio e da dissimulação
da corrupção.
Quando nos desenvolvemos com
consciência crítica, percebemos a essência dos discursos. Reconhecemos os que
são ávidos pelo poder. Compreendemos o modo como os mesmos são objetivados na
prática cotidiana, isto é, percebemos a discrepância entre o que se fala
(promete) e o que de fato se faz.
Compreender a essência dos discursos
proferidos em tempos espaços de campanha pressupõe uma importante interação
entre as pessoas, no sentido de dialogar sobre o que dizem e o que fazem os
candidatos.
Entretanto, temos observado que as
interações pessoais estão danificadas, pois têm revelado réplicas de
falas alienadas que reproduzem o rancor e estimulam a mentira, numa relação de fanatismo
cego que gera o conformismo das aparências.
Isso significa que precisamos fazer
uma autocrítica. Precisamos refletir sobre que estamos acostumados a ouvir e
ver, e, por isso naturalizamos. Não podemos nos contentar com discursos vazios,
capciosos, rancorosos e maldosos. Discursos que ao serem enunciados encontram
uma plateia adepta à perversidade e à dissimulação.
Uma multidão que se constitui
cegamente, acreditando e multiplicando o que é dito, e, como na formação de uma
bola de neve, vai absorvendo tudo que encontra pela frente, inclusive os
maus dizeres, e assim, cada vez mais se fragiliza tornando-se manipulável.
Falta-nos capacidade de análise
crítica, quando nos encontramos nesse emaranhado de manobras, reveladas em cada
propaganda enganosa com posicionamentos que revelam falta de ética – falta de
um verdadeiro compromisso com o outro.
Por isso, quando nos deparamos com a
polarização do “medo e do ódio", nos vemos num beco sem saída, tendo em
vista que os atributos do medo e do ódio provocam a destruição da democracia.
O mais inquietante é que estamos nos
constituindo no lócus dessas produções e objetivações (des)humanas, e assim,
agimos como “os mesmos”. Identificamo-nos com os referidos enunciados e não
percebemos a (des)humanização subjacentes em cada palavra proferida.
Mas, não podemos perder a esperança.
Sim! Precisamos acreditar que podemos mudar o rumo da nossa história.
Precisamos continuar lutando por um mundo mais humanizado.
No entanto, talvez seja preciso viver
o caos para acordarmos. Não é mesmo?
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