Por pressão, planos de educação de 8 Estados excluem 'ideologia de gênero'
Pressionados pelas bancadas religiosas e
com respaldo das igrejas evangélicas e católica, deputados de ao menos
oito Estados retiraram dos Planos Estaduais de Educação referências a
identidade de gênero, diversidade e orientação sexual. Esses planos
traçam diretrizes para o ensino nos próximos dez anos.
Entre os trechos vetados estão metas de
combate à discriminação racial, de orientação sexual ou à identidade de
gênero, censos sobre situação educacional de travestis e transgêneros e
incentivo a programas de formação sobre gênero, diversidade e orientação
sexual.
As bancadas religiosas afirmam que essas
expressões valorizam uma ideologia de gênero, corrente que deturparia
os conceitos de homem e mulher, destruindo o modelo tradicional de
família.
Já os que defendem a manutenção dessas
referências dizem que as escolas precisam estar preparadas para combater
a discriminação de gênero e para dar formação básica sobre sexualidade.
O plano inclui temas como número de
alunos por sala e remuneração de professores, mas a questão do gênero
acabou dominando a discussão.
Dos 13 Estados onde já foi aprovado, 8
eliminaram trechos que faziam referências à discussão de gênero, como
Pernambuco, Espírito Santo, Paraná e Distrito Federal.
Há casos, como Pernambuco, em que o
plano manteve só em parte as referências. O Brasil não está preparado
para isso, disse o deputado Pastor Cleiton Collins (PP).
O secretário de educação da ABGLT
(associação de lésbicas e gays), Toni Reis, discorda. Os valores têm que
ser dados pela família, mas a escola não pode permitir discriminação ,
afirma.
Até em Estados onde o plano ainda não
chegou ao Legislativo, como Minas Gerais e Alagoas, há polêmica. Em
Minas, o deputado estadual Leandro Genaro (PSB) disse que ideologia de
gênero é uma praga que veio do marxismo, passa pelo feminismo e visa
destruir a família tal qual nós a conhecemos.
No Espírito Santo, o deputado Padre
Honório (PT) esteve à frente das mudanças no texto, que vetaram menção a
gênero. Havia um trecho que citava classe social, orientação sexual e
gênero. Retiramos, pois quando se trata de respeito às diferenças , já
subentende-se essas coisas , diz o deputado.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil) divulgou nota em que afirma que a introdução dessa ideologia
na prática pedagógica das escolas trará consequências desastrosas para a
vida das crianças e das famílias .
Adesão
Um ano após a criação do Plano Nacional
de Educação, pouco mais da metade das cidades brasileiras (2.942) tem um
plano local para o setor.
Outros 707 municípios já têm a lei
aprovada, pendente apenas de sanção do prefeito. A lei nacional prevê
que Estados e municípios deveriam elaborar seus correspondentes planos
em um ano, prazo que vence nesta sexta-feira (26).
O prazo foi muito exíguo, mas pela primeira vez temos um movimento simultâneo no país , afirma Alessio Lima, presidente da Undime (entidade que reúne dirigentes municipais de educação).
É uma questão que entrou na pauta , afirma Alejandra Velasco, coordenadora da ONG Todos pela Educação.
O PNE definiu metas para a educação ao
longo da próxima década, até 2024, mas apontou objetivos mais imediatos,
como a aprovação, já em 2015, de uma Lei de Responsabilidade
Educacional.
A intenção é responsabilizar os gestores pela qualidade da escola pública.
Entre as metas do PNE está a ampliação
do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) para mestrado e doutorado.
Neste ano, no entanto, o programa teve forte redução de contratos
firmados.
Fonte: Undime - http://undime.org.br/noticia/por-pressao-planos-de-educacao-de-8-estados-excluem-ideologia-de-genero. Acesso em 29/06/2015. In: Autor: Folha de S. Paulo. http://zip.net/bvrvy8
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