Especialistas debatem formas de coibir violência de gênero na mídia



O papel da mídia para legitimar as agressões contra as mulheres e as formas que os meios de comunicação podem contribuir para combater a violência de gênero foram tema do segundo dia do 1º Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres, em São Paulo.

A regulação dos veículos de informação e propaganda foi defendida pelo assessor de comunicação e informação para o Mercosul da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Guilherme Canela, que participou dos debates.

O modelo ideal, na opinião de Canela, é um misto de autorregulação e de normas e órgãos que façam esse trabalho a partir do Estado. “Onde a autorregulação pode funcionar, ótimo. É menos custo para o Estado e mais participação. Mas nem sempre ela funciona”, afirmou, ao citar o exemplo do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). Segundo ele, a entidade, formada essencialmente por representantes de entidades de classe da comunicação, algumas vezes falha ao evitar a veiculação de peças publicitárias agressivas à mulher.

“É preciso criar instrumentos. Quando a autorregulação não funciona, é preciso que haja outros mecanismos, sempre em linha com os padrões internacionais”, destacou o assessor. Ele afirmou que é necessário cautela para que a regulação não seja usada para fazer censura. “É possível regular os meios sem cair em práticas censórias”, disse.

Em relação ao meios de comunicação, em especial às concessões públicas de TV e rádio, Canela acredita que a melhor maneira de manter o equilíbrio é permitir a diversidade de veículos. “As regras de regulação, que ajudam muito, são as que aumentam a pluralidade dos meios. Quanto mais meios a gente tiver, mais possibilidade nós vamos ter de desconstruir os discursos que são rasos”, destacou.

A diretora da organização feminista inglesa Object, Roz Hardie, acha importante que as pessoas se organizem e usem o poder de consumo para atingir empresas e entidades que façam publicidade abusiva. “Como consumidores, devemos usar o nosso poder econômico para refletir nossa musculatura como cidadãos”, disse, após citar uma série de campanhas publicitárias em todo o mundo que vendem produtos e serviços apresentando a mulher como objeto.

Nesse contexto, a internet abre espaço para organização e difusão de informações alternativas, na avaliação da pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferença da Universidade de São Paulo Beatriz Accioly. De acordo com ela, as redes sociais permitem a divulgação de informações sobre direitos e cidadania de uma forma que não era possível há poucos anos. “As redes sociais, mais do que as mídias tradicionais, têm esse potencial subversivo de resistência e empoderamento, das mulheres se reunirem em redes”, analisou.

Autor: Agência Brasil
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia


PARA SABER MAIS!


Mulheres defendem poder e igualdade de direitos

Os movimentos sociais contribuíram com a luta das mulheres pela igualdade de direitos no país, principalmente no que diz respeito à cobrança para que as instituições brasileiras respondam às demandas e reivindicações dessa parcela da população. No entanto, há uma batalha ainda ser vencida: as mulheres no poder.

A opinião é da ex-ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, apresentada no dia último dia (20), em São Paulo, no 1º Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres. Para ela, a ação dos movimentos sociais até agora foi positiva, porque “fez avançar a agenda do governo em relação a esses setores”. Mas essas questões de gênero e de raça, resssaltou, ainda são “relativamente marginalizadas dentro do próprio governo”. “Você ainda precisa trabalhar com altíssima dose de convencimento para que as coisas aconteçam”, completou.

“Fizemos as instituições brasileiras se moverem na direção das demandas, dos direitos e interesses do conjunto da população. Mas quanto mais andamos nessa direção, mais colocamos para nós mulheres, e, principalmente, nós mulheres negras, a necessidade de avançar ainda mais na ocupação dos espaços de poder efetivo. Porque são nesses espaços que nossas questões vão conseguir chegar lá, onde queremos, pela nossa boca, diretamente. O Estado que queremos, sem nós lá dentro [das instâncias de poder] nunca vai existir”, disse.

Mas agora, segundo ela, os movimentos sociais precisam retomar uma agenda “mais agressiva e de combate às ideias racistas e sexistas que ainda perduram na sociedade” e que “ressurgiram” atualmente como forma de reação aos avanços já conquistados. Uma das lutas sugeridas é pela reforma política, para assegurar maior participação das mulheres no poder e para que também garanta a representação dos movimentos sociais no Congresso.

“É preciso que os movimentos sociais se organizem, se manifestem, e voltem a promover conversas sobre essas questões, usando também as redes sociais. Temos que pensar que as instituições também têm que fazer um trabalho para assegurar a representatividade nos espaços de efetiva decisão. Enquanto isso não acontecer, o trabalho que uma Secretaria de Política para Mulheres ou de uma Secretaria de Promoção da Igualdade Racial ou uma Secretaria de Direitos Humanos ainda vai depender de convencimento interno e isso não é justo”, acrescentou.

Ao participar do debate, a antropóloga e militante feminista Rita Segato defendeu um ponto de vista diferente. Para ela, a luta pela igualdade de direitos da mulher está hoje muito concentrada nas instituições de poder e nas carreiras e precisaria agora voltar ao movimento nas ruas.

“O que temos feito no movimento feminista é colocar todas as nossas fichas dentro do Estado. E por isso estamos perdendo terreno e espaço. Nosso caminho tem que ser anfíbio. Temos que fazer lutas dentro do Estado, mas também usar estratégias, como as que já existiram nos anos 70, do feminismo de rua e de autogestão. Hoje, temos um feminismo de profissões ou de carreiras. Mas precisamos também voltar à vida inteligente que acontece por fora do Estado”, disse Rita.

A procuradora do Estado de São Paulo, Flávia Piovesan, apontou que o empoderamento da mulher passa por uma lista tríplice: física, econômica e política. “O empoderamento demanda autonomia física, ou seja, o controle sobre nossos corpos; a autonomia econômica, a capacidade de gerar recursos próprios; e a autonomia política que é o poder de democratizar as esferas políticas."
Para ela, além da luta pela democratização do ambiente público, as mulheres também devem lutar pela igualdade no ambiente privado. “As mulheres que trabalham fora dedicam quatro horas de seu dia às atividades domésticas. Os homens que trabalham fora, no entanto, dedicam 0,7 horas de seu dia à atividade doméstica. Se queremos o empoderamento na vida pública temos que transformar o público e o privado. Temos que democratizar as duas esferas.”

O 1º Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres foi organizado pelo Instituto Vladimir Herzog e pelo Instituto Patrícia Galvão, em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, a ONU Mulheres e a Fundação Ford. O seminário ocorreu nos dias 20 e 21 de maio, no Sesc Pinheiros. O objetivo do evento é estimular um pacto global de não tolerância à perpetuação da cultura de violência contra as mulheres.

Autor: Agência Brasil
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 PARA REFLETIR E CONTINUAR LUTANDO!




 A Central de Atendimento à Mulher é um serviço do Governo Federal que auxilia e orienta as mulheres vítimas de violência por meio do número de utilidade pública 180. As ligações podem ser feitas gratuitamente de qualquer parte do território nacional.


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