UMA POLÍTICA DE ALFABETIZAÇÃO DE QUALIDADE, CONTEMPLA AS VOZES DA COMUNIDADE ESCOLAR

Esse foi o tom da palestra proferida na abertura do curso de alfabetização promovido pelo COMEV - Conselho Municipal de Educação de Vitória/ES.

CONFIRA A PALESTRA

Na palestra proferida pela professora Ana Maria Louzada, ontem (07/03), sobre a importância de repensarmos as Políticas Públicas de Alfabetização, que estão sendo propostas, várias questões foram levantadas, para que sejam discutidas nas escolas, juntamente com as comunidades escolares.

Nesse sentido, uma indagação ficou marcada:

  • Quais são as questões que precisam ir para o debate nas Secretarias de Educação, nos Conselhos de Educação, nas Escolas, enfim, nas Comunidades Escolares e demais corresponsáveis pela alfabetização?

RODA DE CONVERSA

A referida palestra faz parte da programação do curso intitulado O Processo de Apropriação da Leitura e Escrita na Educação Infantil e no Ciclo Inicial de Aprendizagem do Ensino Fundamental, que está sendo promovido pelo COMEV - Conselho Municipal de Educação de Vitória/ES, com apoio do NEPALES - Núcleo de Estudos, Pesquisas em Alfabetização, Leitura e Escrita do Espírito Santo.


Algumas ideias que precisam ser consideradas, a partir das questões problematizadas ao longo da palestra.

Se você desejar, primeiro assista à palestra clicando no banner acima.

Por Ana Maria Louzada

Em primeiro lugar gostaria de destacar que se não somos convidadas e convidados para participar das discussões e elaboração das Políticas Públicas Educacionais, precisamos nos convidar. 

E, como podemos nos convidar? 
  • Começando as discussões e as problematizações no cotidiano da comunidade escolar, principalmente no decorrer da elaboração, implementação e avaliação do Projeto Político Pedagógico (PPP), de modo que a produção do mesmo seja coerente com as nossas reivindicações. 
 
É começando no lócus da comunidade escolar, onde se faz alfabetização diariamente, que o debate em torno do PPP pode refletir nas questões relacionadas às necessidades reais que precisam ser garantidas nas Políticas de Alfabetização.
 
Essa discussão tem implicações no cotidiano das práticas didáticas pedagógicas, que em consonância com as políticas pedagógicas, podem promover mudanças com foco na perspectiva de uma Política de Alfabetização de Estado. Uma Política produzida por quem faz alfabetização na prática.
 
Para tanto, precisamos estudar, aprofundar, redimensionar e produzir coletivamente, na dimensão de uma Gestão Democrática.
 
Isso significa que precisamos revisitar o sentido de Políticas Públicas Educacionais, e, em especial as Políticas de Alfabetização.

Nesse processo as análises críticas precisam ser realizadas pelas e pelos profissionais que atuam na alfabetização. Não é prudente, repetirmos as críticas feitas por outros (pelos pesquisadores, sindicatos, etc.). 

Essas instituições fazem críticas importantes que precisam ser consideradas, mas, nós que estamos no cotidiano das salas de aula precisamos apresentar os nossos pareceres sobre as Políticas de Alfabetização que estão sendo propostas. Precisamos fazer as nossas considerações, com base em nossas ideias, concepções e proposições.

Só assim, vamos fazer as mudanças necessárias. Mudanças, que primeiro, precisam ser realizadas em nós, no que se refere ao aprimoramento dos nossos discursos e da nossa prática - teoria e prática.  

Outra questão que precisamos enfatizar, é que em pleno 2022, estamos retomando temas, que se contarmos as discussões realizadas desde a década de 1980, quando lutávamos pela formação de sujeitos com consciência crítica, tão discuto por Paulo Freire, são pelo menos 42 anos de intensas lutas. Mas, se hoje, aqui estamos discutindo, é porque em algumas situações houve avanços, e, em outras, retrocessos. 

Avanços do ponto de vista teórico e das possibilidades de dizer o que estamos sentindo, e, retrocesso, quando nos deparamos com os números alarmantes de analfabetos e de crianças concluindo o ciclo de alfabetização, sem saber ler e escrever.
 
Mesmo com alguns avanços conquistados, e, além dos retrocessos acima destacados, vale ressaltar, que ainda nos deparamos com situações que obrigam as professoras, os professores, as pedagogas e os pedagogos, a atuarem, hoje, em pleno 2022, como meros executores das diretrizes curriculares, propostas de cima para baixo.
 
Enquanto profissionais intelectuais, por lidarmos com a produção, apropriação e objetivação dos conhecimentos científicos em consonância com os conhecimentos cotidianos, precisamos dialogar com as dimensões políticas e filosóficas que permeiam as referidas diretrizes.

Reafirmo essa reflexão porque não podemos ficar a mercê das ideias que não conferem com a realidade em que vivemos.
  
No entanto, não vejo problema quando uma Secretaria de Educação formula as diretrizes, com vistas, à qualificar as Políticas que orientam as escolas.
 
O que não podemos conceber, é que o percurso para a produção dos referidos documentos não contemplam as vozes e as necessidades das comunidades escolares.
 
Quando nos colocamos na condição de meros executores, contribuímos para a deformação das práticas didáticas pedagógicas, e, assim, vamos produzindo mentes alienadas, que não conseguem ler nas entrelinhas as artimanhas desse mundo em que vivemos.
 
Precisamos atuar como profissionais que primam pelas experiências que promovem uma leitura crítica da realidade. Profissionais que não se conformam com os ditames das políticas de governo.
 
Estou falando de profissionais que não se contentam com as aparências, e, nesse sentido, buscam compreender a essência do contexto em que vivemos.

 
Tudo bem, cada pessoa tem o seu tempo de aprendizado, isto é, de compreender a realidade vivida, mas, o que não podemos aceitar, é ficarmos caladas e calados, quando somos afetadas e afetados pelas imposições em detrimento do debate e das produções coletivas.
 
Não é fácil produzir, implementar e avaliar uma Política de Alfabetização, na dimensão de uma política de estado. Mas, é preciso... É URGENTE!

AMLouzada: Consultoria Educacional

 
Caso contrário, daqui a 40 anos estaremos aqui, discutindo a “mesma coisa”.
 
Sabemos que as mudanças são processuais, mas fiquemos de olho nos retrocessos, atentos e atentas, para que não sejamos parte das pessoas que estão contribuindo para tal.
 
Por isso, acredito que uma Política de Alfabetização, que se constitui no lócus das comunidades escolares, contempla as suas vozes (dizeres e necessidades reais), e, assim, se revelam políticas de cunho democrático.
 
Nesse sentido, precisamos repensar a quantas anda as nossas práticas no âmbito político pedagógico, no cotidiano das salas de aula, quando lá estamos objetivando concepções educacionais na prática, muitas vezes, contraditórias aos nossos discursos.
 
Fiquemos de olho no modo como produzimos os projetos políticos pedagógicos e os Projetos de Estudos (Planos de Aula), que são projetos didáticos pedagógicos.
 
Esses projetos dialogam com as diretrizes curriculares? Dialogam com os documentos e cadernos pedagógicos que são propostos?
 
Estamos nos posicionado como executoras e executores ou como problematizadoras e problematizadores, na dimensão de uma coautoria?
 
Se desejamos formar pessoas leitoras e produtoras de textos com consciência crítica, precisamos rever o modo como nos posicionamos diante das Políticas Públicas Educacionais, tendo em vista as suas implicações na organização do trabalho didático pedagógico, lá no dia a dia da sala de aula.
 
Uma Política de Alfabetização não pode se limitar a formar leitores de parlendas, e, aqui, não estou dizendo para abolir esse tipo de texto, até porque são importantes em alguns momentos da alfabetização, com o objetivo de trabalhar determinados conhecimentos. Mas, estou dizendo sim, que as parlendas não contribuem para a formação de consciências críticas.
 
A nossa defesa é por uma política que insira as crianças em práticas reais de leitura e produção de textos. Práticas que levam em consideração que as crianças tem o que dizer, porque dizer e quando dizer. Práticas que se ancoram em motivos, objetivos e interlocutores reais. Estou falando de produção de conhecimentos, de leitura e de produção de textos.
 
Para continuar o debate, precisamos aprofundar a ideia de que:  

  • Produzir uma Política de Alfabetização implica em inserir a comunidade escolar nas discussões, porque ela tem o que dizer, porque dizer e quando dizer. 

Os interlocutores reais dessa política são as pessoas que vivem a alfabetização na prática. Pessoas que precisam ser ouvidas em suas necessidades, motivos e objetivos reais de educação.

Pensemos sobre essas questões!


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