MEC extingue SASE, secretaria responsável por articular o PNE
Decreto extinguiu a
Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (SASE), órgão responsável
por articular Plano Nacional de Educação. Saiba o impacto disso.
EDUCAÇÃO E
CIDADANIA | NOTÍCIA
Políticas Educacionais
Depois de assumir a presidência e nomear Ricardo Vélez Rodríguez
como Ministro da Educação , Jair Bolsonaro (PSL) extinguiu a Secretaria de Articulação
com os Sistemas de Ensino (SASE). O órgão era o principal responsável por
prestar assistência técnica e dar apoio aos municípios no processo de
monitoramento e avaliação dos planos de educação.
Para Claudia Bandeira, mestre em educação e assessora da
iniciativa De Olho nos Planos, a medida evidencia o descaso do governo federal
com os planos de educação. “Durante o período eleitoral, só 4 candidaturas à
presidência citavam o PNE. A de Jair Bolsonaro não estava entre elas. Agora,
com o desmonte da SASE, fica ainda mais clara a indiferença deste governo ao
PNE, principal instrumento da política educacional do país”.
Histórico
A Secretaria foi criada em 2011 a partir de uma demanda apontada
durante a Conferência Nacional de
Educação (CONAE) 2010. Entre os pontos debatidos no evento, teve destaque a
urgência da construção de um Sistema Nacional de
Educação (SNE) que articulasse os diferentes entes federativos e níveis de
ensino. Foi também esta conferência que aprovou as bases para a construção do
atual Plano Nacional de Educação (PNE).
Na ocasião, foi solicitada ao Ministério da Educação (MEC) maior
presença na articulação de diferentes atores sociais para a construção do SNE e
a constituição de um sistema que pudesse dar suporte à construção e à
implementação dos planos. Em resposta a essa demanda, foi criada a SASE.
Em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação
(Consed) e a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o
órgão estruturou ao longo de 2014 uma rede de apoio técnico composta por
avaliadores/as educacionais, supervisores/as e coordenadores/as estaduais,
divididos por polos dentro de cada estado. Nesta primeira fase, o principal
objetivo da Rede de Assistência Técnica era fomentar a construção dos planos e
garantir que as metas fossem elaboradas em consonância com o documento nacional.
Para isso, foram criadas comissões coordenadoras locais de suporte à elaboração
e revisão dos planos.
“Nós iniciamos o trabalho orientando um conjunto de municípios na
elaboração dos planos municipais de educação”, conta Rosilene Lagares,
avaliadora educacional técnica do estado do Tocantins. Ela conta que a maioria
dos planos municipais que acompanhava foram aprovados nas casas legislativas em
2015 e, depois disso, iniciou-se o processo de implementação das metas e
estratégias. “Passamos do trabalho de assistência ao monitoramento e à
avaliação desses planos municipais de educação”, relata.
“Nesse processo de assistência nós mantivemos contatos remotos,
por e-mail, whatsapp, telefone, e também por meio de formações junto a técnicos
dos municípios e participantes da sociedade em geral que compunham as equipes
técnicas e as comissões coordenadoras. Então orientávamos sobre a importância
dos planos, como fazer o monitoramento e a avaliação, a necessidade de fazer
isso, mas, antes de tudo, de implementar os próprios planos”, reforça.
Continuidade
incerta
Com a mudança de mandato do governo federal e a extinção da SASE,
o rumo da rede fica incerto. “Até o presente momento não recebemos nenhuma
comunicação oficial da parte do MEC sobre a nossa saída. Contudo, sabemos que a
SASE foi extinta e as pessoas que trabalhavam nessa rede dentro do âmbito do
MEC foram remanejadas ou foram demitidas”, conta Rosilene.
Procurada pela iniciativa De Olho nos Planos, a assessoria de
imprensa do Ministério da Educação informou que as atividades do órgão estão em
ritmo mais lento que o comum devido ao período de transição de gestão, e que,
por isso, o destino dos programas e das ações das secretarias extintas ainda
não estão definidos.
Pelo registrado no Decreto que extinguiu o
órgão, as competências da Secretaria de Articulação com os Sistemas de
Ensino (Sase) foram alocadas na Secretaria de Educação Básica (SEB), ficando,
portanto, a cargo da SEB a responsabilidade de monitorar o Plano Nacional de
Educação (PNE) e articular o Sistema Nacional de Educação (SNE).
A decisão sobre a continuidade de existência da Rede de
Assistência Técnica, bem como de seus membros, ainda terá que ser definida
pelos gestores da SEB e não tem data prevista para acontecer.
Para Rosilene, apesar de alguns desafios enfrentados, a rede foi
um passo importante na construção da política educacional e deveria ser
mantida.
“A rede tem vários problemas por conta a dimensão territorial do
país, mas ela foi um apoio para os municípios nesse processo de planejamento,
então a continuidade dessa rede seria essencial para o desenvolvimento da
educação”, avalia.
Além do suporte técnico, a SASE era também responsável pela
manutenção de um portal: Planejamento a Próxima Década/ PNE em
Movimento. Na plataforma, é possível encontrar documentos
orientadores, acessar um mapa de acompanhamento da situação dos planos nos
estados e municípios, fazer download dos planos,
consultar uma relação com nome, e-mail e telefone das/os coordenadoras/es
estaduais da Rede e ler notícias sobre a temática dos planos. Apesar do portal
seguir no ar, não há notícias ou fotos relativas ao ano de 2019.
Sistema
Nacional de Educação
Pelo estabelecido no Artigo 13 do PNE, o SNE deveria ter sido
instituído até a metade do ano de 2016. Há três anos em tramitação na Câmara
dos Deputados, o projeto de lei que estabelece as diretrizes e o funcionamento
do Sistema foi objeto de audiências e debates públicos, mas ainda aguarda
aprovação.
Segundo o balanço de quatro anos do
Plano elaborado pela Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, a anexação de dois projetos
de lei, o PLP 413/2014, de
autoria de Ságuas Moraes (PT/MT), e o PLP15/2011, de Felipe
Bornier (PHS/RJ), feita pelo deputado Glauber Braga (PSOL/RJ) fez com que a
articulação do Sistema avançasse consideravelmente. Entretanto, sua completa
efetivação depende do cumprimento das estratégias de financiamento, que, devido
ao Teto de Gastos (EC95)
se encontram em atraso e sem previsão de execução.
(Des)valorização
docente
Além do monitoramento dos planos e da
articulação do Sistema Nacional de Educação, a SASE também era responsável pela
assistência técnica para a implementação do Piso Salarial Nacional, orientando
os estados e municípios sobre como torná-lo viável em seus orçamentos.
Atualmente, a carreira de professor/a encontra-se entre as mais
desvalorizadas para pessoas com Ensino Superior. Muito inferior ao de
profissionais de outras áreas com o mesmo nível de formação, o piso salarial do
Magistério é atualmente de R$2.557,74.
Pela Meta 17 do PNE, até 2020, a média salarial da categoria
deveria ser equiparada à de outras/os profissionais com o mesmo nível de
formação. Para que isso aconteça, o reajuste deveria ser maior do que tem sido
nos últimos anos (em 2019, foi de 4,17%). Além disto, seria necessário haver um
esforço em torno do cumprimento do valor já estipulado. Segundo levantamento do
MEC, em 2017, 45% dos municípios sequer pagavam o piso. Longe de alcançar a
meta, o Brasil espera agora da SEB a definição do formato da assistência
técnica para a implementação da lei.
A importância da
rede
O acompanhamento de uma política de Estado, cuja duração
ultrapassa o tempo de um governo, não deve ficar restrito às equipes gestoras
da administração pública, mas ser feito em diálogo com toda a sociedade. Por
isso, a formação de redes de capacitação técnica e a implementação de ações de
estímulo à participação não pode ser abandonada pelo Ministério.
“Além da participação de toda sociedade no monitoramento dos
Planos de Educação, eles, por serem de território, devem levar em conta todo o
atendimento educacional, da Educação Básica ao Ensino Superior, existente em um
estado ou município. Por isso, ter uma rede de acompanhamento é importante
também para mobilizar diferentes entes federados na implementação e
monitoramento desses planos”, defende Claudia Bandeira, mestre em educação e
assessora da iniciativa De Olho nos Planos.
“Diante desta conjuntura, é cada vez mais é importante que os
municípios sejam a resistência e não deixem que o plano seja esquecido.
Publicizar os resultados das conferências de educação e elaborar um plano de
cumprimento das próximas metas, reforçando a importância e a relevância dessas
políticas de Estado, pode ser uma estratégia para não deixar que os planos
viram letra morta”, sugere.
Ela ressalta também a importância de se garantir a participação
social nesses processos, que devem ser conduzidos não apenas pela Secretaria ou
Conselho, mas por toda a comunidade escolar. “Vamos ampliar a roda para não
deixar o plano morrer”.
Fonte: De Olho nos Planos
Comentários
Postar um comentário
Inscreva-se no blog e receba as Notícias em primeira mão
Deixe seu comentário!