BIRRAS... Desafios que fazem parte do processo de desenvolvimento infantil

Uma boa orientação nos momentos de birra infantil qualifica as relações humanas
 

@amlouzada1

COLUNA | Orientação Educacional
Por Ana Maria Louzada*
 
A criança pequena, até por volta dos 6 anos de idade vivencia complexas experiências, dentre as quais, as de relacionamentos humanos (interação social) que envolvem aspectos interpsicológicos, que por sua vez estão relacionadas com a construção do conceito de si mesma (aspecto intrapsicológico), bem como, com a capacidade de autocontrole diante dos obstáculos.
 
Dentre os desafios vivenciados no decorrer das referidas experiências, destacaremos a birra (pirraça), que geralmente tira qualquer um do sério. Não é mesmo?
 
Mas não se desespere! Para lidar com a birra infantil, basta ter controle da situação. Sim! Esse é um momento que requer maior capacidade de controle dos pais (ou de quem cuida e educa).
 
E para ter controle da situação, é necessário conhecer o processo de aprendizagem e desenvolvimento infantil, melhor dizendo, é importante saber o que ocorre com a criança pequena - compreender o sentido e motivo da birra.
 
O sintoma da birra costuma aparecer por volta dos 6 meses e pode durar até aos 6 anos.
 
Nesse tempo espaço da infância, a criança ainda não consegue lidar com as frustrações, os desafios e os obstáculos (lembra que ela está construindo o conceito de si mesma, e, que ainda, não consegue se colocar no lugar do outro (pensamento egocêntrico).

Isso indica que a criança precisa aprender a se relacionar consigo mesma, com as pessoas, com o mundo e com as situações (experiências). Certo?

Tudo isso acontece, porque nesse período da vida infantil o lobo frontal do cérebro, responsável pelo controle das emoções ainda está se desenvolvendo.
 
Uma das áreas que não nasce pronta na criança é a parte superior da massa cinzenta – o neocórtex. Essa região corresponde a 76% do cérebro. Está localizada na parte frontal, logo atrás da testa. É o centro de controle do cérebro (o lobo frontal).
 
O lobo frontal é responsável pelas capacidades de reflexões, planejamento, raciocínio, resolução de problemas, julgamento e controle dos impulsos, além de regular os sentimentos, como a empatia, a generosidade e o comportamento.
 
A parte superior (cérebro racional) composta pelo neocórtex e em particular pelo lobo frontal, é uma das últimas partes do cérebro que se desenvolve.
 
Por isso, alguns comportamentos que envolvem habilidade de tomar decisões equilibradas, controle emocional, capacidade de prever as consequências de seus atos, etc. são extremamente desafiadores para a criança.
 
Nessa fase (principalmente até aos 4 anos de idade), os dois hemisférios cerebrais ainda não trabalham de forma totalmente integrada, de modo que sem o auxílio da parte superior do cérebro para compreender o que está acontecendo, altos níveis de substâncias químicas associadas ao estresse percorre o seu corpo e o cérebro, deixando-a agitada, irritada e frustrada.
 
O cérebro humano é formado por duas metades, de aparência semelhante chamadas também pelo nome de hemisférios cerebrais. Elas estão conectadas entre si, por um feixe de filamentos nervosos denominado e corpo caloso, que na criança pequena ainda está em desenvolvimento.
 
Fato é que, na ausência de conexões neuronais adequadas nos primeiros quatro anos, a atividade mais intensa acontece nas partes inferiores que já vêm bem desenvolvida desde o nascimento (consideradas as mais primitivas do cérebro), de modo que para demonstrar suas necessidades, insatisfações ou frustrações, ela reage com todo o corpo (lembrando que ela ainda está aprendendo a se comunicar por meio da oralidade).

A parte inferior do cérebro também conhecida como cérebro emocional, inclui o sistema límbico, estrutura que desperta emoções fortes, como raiva, medo e estresse.

Outra questão importante a destacar, é que, nesse período da vida infantil, a criança começa a perceber que tem vontades próprias. Ela está num intenso momento de descobertas, de desenvolvimento da sua independência como indivíduo (está aprendendo a andar e a falar).
 
É quando se intensifica o aprendizado de tomar decisões, como por exemplo, comer sozinha. Muitas crianças querem comer sozinhas, e alguns adultos não permitem, achando que ainda são muito pequenas; que vão sujar tudo ou que não conseguirão comer o suficiente.
 
Quando impedidas de se alimentarem por si (até porque observam as demais pessoas da família comendo autonomamente), elas choram, jogam o prato no chão, se recusam a comer, etc. (lembra que a parte do cérebro inferior comanda essa fase).
 
Nesses momentos, o mais prudente, antes que aconteça o fenômeno da birra, é oportunizar que a criança se alimente. 

Reserve esse momento, e, junto com ela, vai oferecendo o alimento, mas deixe-a comer por si própria. 

Ela tomou uma atitude, que pode ajudar a desenvolver a parte do cérebro em construção (lobo frontal).

Saiba que além de comer com a colher, ela tentará pegar determinados alimentos com a mão (ela precisa sentir a textura). Depois lava e tudo bem! 

Aqui está em jogo o processo de desenvolvimento da habilidade de comer sozinha, de tomar decisões, de lidar com novas experiências. Compreende?

Este é o período em que o cérebro mais precisa de estímulos, uma vez que 90% das conexões cerebrais são estabelecidas até aos 6 anos. 

Em outras palavras, as interações sociais contribuem para impulsionar a atividade cerebral. Se a criança for negligenciada, muitas ligações entre os neurônios deixam de acontecer, o que pode afetar o seu potencial de aprender e se desenvolver.
 
Considerando tais questões, fica claro que a birra faz parte do universo infantil, e, por isso, não pode ser ignorada, mas requer mediação adequada.

Ao compreendermos que em muitas situações a birra é uma forma de reivindicar seus desejos e interesses, lidaremos melhor com a criança “birrenta”.

Destacando: Ao se deparar com situações desafiadoras, a criança externaliza o que ainda não sabe nomear, por meio do seu corpo (ela se revela corpo e movimento), se jogando no chão, batendo, mordendo, jogando os objetos no chão, chorando, fazendo careta, etc.
 
Aos olhos de quem não conhece o desenvolvimento infantil, essas atitudes são vistas como desobediência, desrespeito à autoridade dos pais (adultos), criança mimada, etc.
 
Mas, quando tomamos consciência de que a criança está se desenvolvendo, e, que para tanto precisa aprender a lidar com seus sentimentos (raiva, medo, decepção) e necessidades (desejos, vontades), a nossa forma de educá-la (de lidar com a birra) se transforma em orientação educativa.
 
Reafirmando: A birra faz parte do processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança, e, por isso, precisa ser concebida como um momento importante de promoção das habilidades que envolvem as tomadas de decisões, controle emocional e capacidade de prever as consequências de seus atos (lembrando que a parte do cérebro responsável por essas habilidades ainda está em formação).
 
Fato é que a solução para esse comportamento não requer gritos, muito menos puxões de orelha ou palmadas, mas sim firmeza e autoridade no cotidiano das orientações.
 
Converse com a criança porque ao ouvir o que está lhe frustrando, pode ajudá-la a entender os sentimentos vivenciados no momento.

O seu vocabulário ainda está limitado para expressar seus sentimentos (lembra que a birra pode ser um modo de dizer o que as palavras ainda não podem traduzir).

Então ao conversar com ela em tom de voz firme e calmo ela aprende que a birra não está atingindo o seu objetivo.

Mas não caia no erro, de falar meia hora sem parar, dando lição de moral ou criticando a ação como se fosse a pior coisa do mundo.

O melhor é dizer que sabe como ela se sente, mas agora não é possível ter ou fazer o que ela quer. Explique o que ela está sentindo. Quando damos nome ao que está acontecendo, conseguimos ajudá-la a identificar os seus sentimentos e a aprender a se controlar.
 
Importante: No auge da crise da criança, quando a parte inferior do cérebro está predominante (lembrando que essa parte desperta a raiva, o medo, o estresses e que os dois hemisférios cerebrais ainda não trabalham de forma totalmente integrada), o melhor é abordá-la de forma emocional.
 
Então ao começar a birra, é prudente usar expressões faciais empáticas e um tom de voz firme e acolhedor, que traduza em palavras os sentimentos que ela ainda não consegue descrever. Tudo bem?

O cérebro precisa entender que não terá o que quer, e, que aquela atitude não está funcionando.
 
Outra dica é pensar em alguma distração que tire o foco da situação que está provocando a birra. Antes que o fenômeno aconteça, é claro!
 
Outras vezes, é prudente não dar importância demasiada aos ataques de birra. O melhor a fazer é deixar a criança se acalmar. Respire fundo retire-a da situação (principalmente se for lugar público). Sente-a num lugar reservado. Fique em silêncio. Mostre que está por perto, mas que não dá para conversar agora.

Quem sabe, ela só está precisando extravasar a raiva ou a frustração?

Então, ficar por perto e retornar a conversa quando estiver mais calma ajuda a criança a se expressar de uma forma não destrutiva e começar a ter ideia do que é autocontrole.

Pois bem, se as dicas sugeridas não funcionarem, para evitar que os hormônios ligados ao estresse assumam o comando, proponha uma atividade física: brincar de pique, apostar corrida, etc. As atividades físicas ajudam a alterar a química cerebral e promove bom-humor.

Mas se as birras persistirem, o melhor é procurar aconselhamento de um(a) profissional da psicologia, psicologia ou da orientação educacional.
 
Educar uma criança requer conhecimento, disponibilidade de tempo, atenção, paciência e muito amor.

________
*Ana Maria Louzada - Coordenadora do Programa Educar com Diálogo, Colunista no Redação ES, Diretora do Centro de Assessoria Estudos e Pesquisas em Educação, Consultora Educacional e Palestrante no AMLouzada: Consultoria e no Canal conversando com a Ana Louzada – amlouzadaconsultoria@gmail.com


INFORME PUBLICITÁRIO
@amlouzada1

INFORME PUBLICITÁRIO
@amlouzada1


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O DESAFIO DE EDUCAR NO CONTEXTO DE FALSOS TEMPOS ESPAÇOS VIVENCIADOS

POR QUE PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO? Questões importantes que você precisa saber!