Três desafios para os municípios construírem suas leis orçamentárias de acordo com os Planos de Educação
Doutor em administração pública pela
Fundação Getúlio Vargas, Fábio Pereira destaca que o principal desafio
para municípios é conseguir determinar custo de metas do Plano de
Educação
O que fazer para que as leis
orçamentárias estejam de acordo com as metas previstas no Plano de
Educação? E como melhorar a educação a partir do orçamento disponível no
município?
Essas são algumas das perguntas
respondidas pelo doutor em administração pública pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV), Fábio Pereira, ao destacar que os municípios brasileiros
devem superar três desafios para efetivar os Planos de Educação em
diálogo com a construção de suas leis orçamentárias. Segundo ele, os
municípios devem: dimensionar adequadamente o custo unitário de cada uma
das metas previstas pelo Plano de Educação; distribuir estas metas em
tempo adequado; e avaliar os programas existentes com o objetivo de
priorizar as ações previstas pelo Plano.
Veja abaixo os três desafios
orçamentários que, segundo o doutor Fábio Pereira, os municípios devem
superar para efetivar seus Planos de Educação:
Desafio 1 - Dimensionar os custos de cada meta do Plano de Educação
“O principal desafio na vinculação do
Plano Municipal de Educação com o orçamento da cidade é o
dimensionamento adequado do custo unitário de cada uma das metas
estabelecidas, sejam elas qualitativas ou quantitativas. Se eu quero
aumentar a jornada escolar para cinco, dez ou cem mil alunos, por
exemplo, preciso saber qual o custo unitário desse aumento.
Um município maior já possui condições
ou pode constituir uma equipe técnica com a preparação necessária para
fazer esse dimensionamento. Já os municípios menores podem se juntar na
forma de consórcios, criar soluções compartilhadas e contar com o apoio
das instâncias estaduais e federais.
É muito importante também buscar
experiências bem-sucedidas como forma de economizar esforços. Em geral
as condições nos municípios são bem diferentes, mas é possível ter uma
boa base em cima da qual se pode construir sua própria solução. Com
isso, é possível economizar esforços na forma como se fazem as compras e
como se determinam as contratações, podendo ter a comparação com
projetos bem-sucedidos e projetos-padrão de creches e escolas da
Secretaria Estadual ou do Ministério da Educação (MEC), por exemplo”.
Desafio 2 - Distribuir metas em tempo adequado
“O segundo desafio é distribuir as metas
adequadamente no tempo. Ou seja, se o município estabelece uma meta de
ampliar em cinco mil vagas a educação infantil em dez anos, ele precisa
distribuir essa meta considerando que, do ponto de vista orçamentário,
não faz muito sentido fazer distribuições lineares.
Nós estamos em crise hoje, mas é uma crise cíclica e que vai ser superada. Não sabemos exatamente quando, mas a economia tende a retomar algum nível de crescimento”.
Desafio 3 – Avaliar programas existentes
“Agora é o momento de fazer o esforço de
rever todos os programas que a gente está implementando, rever sua
estrutura de custos e tentar melhorar a gestão pública para, ainda mais
em momento de crise, conseguir avançar e chegar mais próximo das metas
estabelecidas para os próximos dez anos por meio do Plano.
Ainda que seja um pensamento do
senso-comum, o momento de crise econômica cria uma oportunidade política
para se rever os gastos construídos e resolver problemas estruturais
que às vezes se arrastam por cinco ou dez anos, aproveitando uma
legitimidade política necessária para tentar resolvê-los.
(…) E a vinculação das leis
orçamentárias aos Planos é fundamental porque o orçamento só adquire
sentido e conteúdo quando está vinculado ao orçamento das políticas
públicas. E, por outro lado, as políticas públicas só podem acontecer na
prática se tiverem um orçamento adequado e que expresse esse
financiamento”.
A participação na construção do orçamento
De forma semelhante à prevista para
construção dos Planos de Educação, o doutor Fábio Pereira defende,
também, que as leis orçamentárias sejam elaboradas em diálogo com a
população. “A construção de um orçamento em diálogo com a sociedade só
tende a trazer vantagens ao discutir as propostas e aumentar a
legitimidade das decisões que precisam ser tomadas”, afiança Fábio. O
doutor pela FGV defende que é possível discutir amplamente a aplicação
de recursos “no pagamento dos profissionais da educação, na alimentação
escolar e programas de complementação, no transporte de estudantes e no
gasto com a extensão da jornada dos alunos, entre outros”.
Apesar dos aspectos legal e técnico das
leis orçamentárias, Fábio defende que o orçamento depende
fundamentalmente de decisões políticas: “a opção política na alocação de
recursos é fácil de ser entendida. São escolhas difíceis de se tomar já
que é necessário fazer tudo e os recursos são limitados. Mas, do ponto
de vista técnico, se forem adequadamente apresentadas, as leis
orçamentárias são perfeitamente inteligíveis para qualquer cidadão”.
Para que seja garantida a participação
da população, segundo o doutor em administração pública, é necessário
pensar em estratégias diferentes para municípios com tamanhos distintos.
“Em um município menor, é possível fazer essa discussão de forma
centralizada com reuniões com a comunidade escolar, com grupos
territoriais e com setores que têm diferentes interesses, fazendo um
esforço de síntese”, aponta Fábio. E complementa: “nós temos
experiências antigas de orçamento participativo em que todos os gastos
podem ser discutidos desde que sejam respeitadas as determinações e
vinculações legais”.
Já no que se refere ao debate sobre o
orçamento em municípios grandes, o pesquisador defende que sejam feitas
discussões descentralizadas. “Neste caso, é preciso trabalhar com
prioridades regionais e uma concepção geral de como deve ser feita a
alocação de recursos, tendo algum tipo de representação por conselhos ou
por delegados eleitos”, afirma. Fábio defende que, além de definir o
orçamento, é necessário que “a população tenha instrumentos para
acompanhar como o recurso está sendo executado e se os objetivos
propostos foram ou não atingidos”.
Autor: De Olho nos Planos
http://www.deolhonosplanos.org.br/tres-desafios-para-os-municipios-construirem-suas-leis-orcamentarias-de-acordo-com-os-planos-de-educacao/
Acesso em 14/09/215
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